27.12.12

Sonho

Ele deitou cansado. Naquela noite, tanta música pra ouvir e tanto filme pra assistir. Não pôde. Não conseguiu se concentrar minimamente em algo que não fosse arrependimento, vergonha, tristeza e um grande bocado de solidão. Naquela noite, cotovelos cravados nos joelhos, e o queixo na palma das mãos. Era a postura decisiva de alguém fodido. Alguém sem esperanças. Fosse o mundo um pouco diferente, teria uma arma debaixo do travesseiro, pronta para ser usada. Teria caixas com tarjas pretas espalhadas pelo pé da cama. Mas não. Não serve.


Ele sonhou tanto com coisas ruins, pesadelou com tragédias demais, e sorriu de menos. E quando um sonho bom aparece, a gente se apega. Apega de verdade, e chega a pensar que aquilo é um traço de realidade. Como quando ele sonhou com a ex-namorada que o deixou. Ou quando sonhou com a amiga estranha que nunca foi uma namorada, e que nunca pensou que seria. Cada sonho feliz despertou nele o sentido de sair correndo e tomar decisões. Sair de casa com o peito estufado e gritar suas vontades. Mas calma. Calma. Era sonho. Vamos mesmo basear nossa vida em lapsos e conexões do sistema límbico? Vamos basear nossa realidade em ficção? De que adianta construir um castelo em cima da areia?
E cada vez que esse pensamento lhe assaltava, ele cravava o queixo mais fundo nas mãos. Outra noite pela frente, outra frustração adiante.