27.12.12

Eu-mesmo

A minha verdade tem sido singular e repetitiva. A minha verdade, no que diz respeito a relacionamentos. E no que diz respeito a relacionamentos, posso falar da minha vida toda. Desde que assumi o papel de elemento social, que interage e participa do mundo, lembro de estar me relacionando com uma pessoa especificamente.

Lembro que, aos 15 anos, tinha uma namorada extremamente legal. Lembro, naquela época, que os problemas que hoje me perturbam, nem de longe pareciam existir. Não lembro de discutir o relacionamento, não lembro de ciúmes, de brigas, de traumas, de nada. Lembro que era feliz. E lembro também, que aquilo me fez mudar quem eu era. Mudou pouco, sim, mas mudou. Ela me mudou. Ela fez com que eu fosse alguém diferente. Pouco sim, mas fez. E quando termina, o que me sobra? Ser alguém que ela quis, mas que agora não quer mais. É isso que fica.

Depois dos negros meses de 2006, onde me afundei em depressão, vinho barato e cigarros vagabundos, conheci outro alguém. Dessa vez sim, já presenciei os distúrbios na força. Já conheci o mundo semi-adulto dos relacionamentos. E tal qual minha vida foi, pra ela mudei também. Provavelmente foi o namoro que mais definiu minha vida. Definiu minha carreira, definiu minha visão social e moral. Foi o mais intenso, mais longo, o mais específico. Mudei bastante. Me adaptei a uma realidade que nunca foi a minha. Cachaça e Pepsi, nunca mais. Festa podre e gente bêbada, chega. Não foi imposição, nunca. Foi um consenso. Não havia mais espaço pr'aquela vida, se eu queria uma vida nova. É uma questão de espaço emocional. E eu abri mão de quem eu era, porque achei que seria mais legal o que viria adiante. Sem julgar se foi uma decisão sábia ou não, hoje eu sou outro cara, e ela não está mais aqui.

O ano de 2011 certamente foi o mais absurdo. Traição, mentiras, depressão, raiva. Tudo junto formando um eu-mesmo disforme. Um eu-mesmo que nunca vi. E isso acaba com um casamento num passe de mágica. E em 2011, me vi querendo ser de novo, um pouco mais 2006, e menos 2011. Me vi querendo vinho barato de novo. Me vi querendo beber no gargalo, e atirar a garrafa pra cima, sem querer saber o que vai acontecer quando a gravidade fizer seu trabalho. Em 2011, conheci a terceira da lista. A terceira que me mudou bastante. A mudança da terceira se faz mais evidente, porque agora sou completamente adulto. Agora sei dos malefícios do cigarro, do imposto de renda, do transporte público, da emissão de gás carbônico. Agora sei quando estou mudando, e fica mais difícil se adaptar a isso. E me adaptei. Mudei de novo. Mudei pra ela. E de novo, me vejo mudado e sozinho. Me vejo não mais sendo eu-mesmo. Não sou mais eu. Sou um resultado de dezenas de pequenas transformações. Transformações que me desligam de mim, e de quem eu era tanto tempo atrás. Mudanças que não me dão personalidade própria. Mudanças que complicam cada decisão. Mudanças que fodem minha cabeça.

Hoje eu não sou mais o mesmo. Poderia ser uma coisa boa, não fosse por uma decisão alheia. Decisões alheias. Adoraria ter mudado por vontade própria. Sentado no vômito, decidiria não mais beber até cair. Com sangue saindo da garganta, decidiria fumar menos. Com o dinheiro acabando na carteira, decidiria arrumar um emprego. Penso, agora, aos 23, que minha vida não foi decidida por mim. Foi decidida por gente que sim, se importava comigo, mas que agora não se importa mais.

Minha vida é uma roupa velha, remendada, tingida, costurada... que agora não serve mais em ninguém.