27.3.13

Chumbo


Bastam alguns poucos caracteres com uma mini miniatura, e um dia quase colorido fica pintado de carvão e chumbo. Aquelas guitarrinhas felizes e agitadas dão lugar as velhas conhecidas melodias embaladas com um piano triste e uma letra significante demais. O poder que algumas pessoas exercem sobre mim às vezes me tira do sério. Me faz querer matar e às vezes morrer. Muda minhas atitudes e eu fico feito palhaço de banho tomado com a janta servida esperando uma conversa. Fico bobo atordoado fingindo que tudo bem, uma hora ela vem. Fico cruzando os dedos, suando nas mãos, esfriando a barriga, borboletas vomitadas em paredes amareladas.

Tudo corria bem. O café funcionava me acordava, o trabalho tava rolando bem. Pdfs pulavam da caixa de saída como torradas em comercial de margarina. Eu levava um sorriso pra lá e pra cá, cheguei a fazer piadas, contar histórias e discutir teorias sobre aquele seriado que acabou me deixando incomodado. Tudo funcionava. Quando eu pensava em visitá-la, um pico de bom senso saltava forte e evitava o malefício. Minha força permitia livrar-me dos deletérios que tantas vezes me colocaram abaixo do rabo do cachorro, comendo minhocas e dormindo em papelão.

A força que essas coisas têm sobre mim não fazem mais sentido. Chega a ser triste me ver sorrindo e de repente morto por dentro. Com os dentes apodrecendo e a cara esvaziando como um balão de aniversário dois dias depois. Acho que é isso que aconteceu. Uma festa surpresa onde ninguém veio. O bolo com mosca em cima, os salgados com aquele mofo e os doces caídos no chão. Tudo errado. A música repetindo mil vezes porque alguém esqueceu de trocar o disco. Um cenário pós-apocalíptico. Como se zumbis tivessem aparecido e comido cada traço de esperança ou alegria que me restava.

Talvez seja isso. Talvez a minha festa já tenha acabado. Ninguém veio, ninguém virá. Talvez a vida seja assim mesmo. Medíocre, instável e triste. E tem gente que acha que vale a pena.