11.1.13

Eu

Eu que já fui indestrutível, já fui cavaleiro em armadura de aço, já fui aventureiro de tantos mundos.
Eu, que já me vi Pequeno Príncipe, eu que velejei os sete mares com um sorriso no rosto e sem medo no coração.
Eu que fui de tudo um muito, e de todos, um tudo.
Eu que já fui inquebrável, irreversível, inoxidável e intransponível.

Eu que hoje caio de joelhos e choro com as mãos afundadas no rosto. Eu que hoje não sou mais tanto, e sim tão pouco. Eu que hoje me dobro e me desdobro, na busca pelo sono. Eu que tanto busco felicidade, ajuda, amor, e nada acho. Eu que me vejo miserável, acabado, lastimável e destruído.

Eu que já fui Superman com sol amarelo, hoje estou mais pra Acquaman perdido num deserto. Já fui tanto, e tanto fiz de mim. Tanto conquistei, tanto obtive e tanto mereci.

Hoje caio em prantos, com a roupa suja de molho de tomate e a pia lotada de pratos e garrafas vazias. O cinzeiro transbordando em morte e cinzas. A cama sempre desfeita, carrega nela noites mal dormidas, e pesadelos bastante sofríveis. O carpete que há tempos não vê uma vassoura ou aspirador, marca meus passos cambaleantes. De lá pra cá, de cá pra lá. Andando em círculos sem rumo e sem sentido.

Eu que já fui tão forte, tão bravo e corajoso, hoje me vejo aqui, um sujeito falido, sem esperanças, sem sonhos e sem um horizonte de outono.