18.10.12

Sonho

Tenho bebido demais. Tenho fumado demais. Sonhado demais. Demais pesadelos, demais frustrações. Demais medos e tragédias tristes melancólicas sofridas. Demais tudo que há de ruim, e de pouco, o bom da vida plena. De bom, sobra quase um teco de fiapo. De ruim, transborda a boca cheia de vômito e câncer. Da vida, vou levar o mínimo.

O sono não vem mais. Quando vem, vem em forma de enganação. Em forma de mito. O sono some fácil, rápido e antes de acordar. A cabeça fica pesada no travesseiro. O peso de um milhão de decisões. Erradas ou não. Um milhão de decisões esmagando a minha cabeça. Entre o martelo e a bigorna, os olhos pulam das órbitas e vão parar debaixo da geladeira. Junto com todos os cubos de gelo que já chutei pra lá. Junto com todas as verdades que escondi debaixo do carpete. Junto com todo pó que empurrei pra lá. Junto com toda minha vida, que escorreu ralo abaixo e nunca mais volta.

Na hora de tomar a decisão que reverteria toda a situação, acendi um cigarro, tomei um gole, sentei na cama. Evito sempre. Evito a dor, o pensar, a vida. Na hora de refletir, aperto bem os olhos e finjo que não existo. Mas na hora de dormir, quando o maldito sono vem, não consigo escapar. E as sombras vêm com força, e atacam impetuosas. Me derrubam em sangue e chorume. Caio aos pés de mim mesmo, e me desgosto ao extremo. Só queria acordar. Só queria acordar dessa merda toda.

Vai ver acordar quer dizer morrer.