22.10.12

Dói

Estou em proceso de cicatrização. Sofri sérios ferimentos e me vi a beira da morte. Cara a cara com o demônio em pessoa. Me vi fugindo da luz como quem foge da cruz, me vi correndo tanto pra evitar a eminência fatal, que agora agonizo em feridas sem cura. Os pulsos abertos, a cara lavada de sangue. A coloração cianótica, os olhos cansados, a visão turva. Doeu tanto apanhar assim, e ainda dói.

Por noites a fio sofro calado. No silêncio da minha cama repleta de roupas, cadernos, canetas, garrafas e cinzas, fico perdido num trauma. Fico chorando mentiras, fingindo verdades, contando histórias que me façam esquecer. Esquecer do caminho sujo que percorri, das desagradáveis surpresas dessa vida desgraçada. Esquecer da felicidade que eu tinha e perdi, e encontrei, e perdi de novo. De novo, lembro de tudo e tal qual faca cega, corta rasgando a felicidade que eu conquisto vagarosamente. É como se fosse uma eterna briga comigo mesmo.

Um passo pra frente, dois pra trás.